sexta-feira, abril 28, 2006

A retórica demagógica do "artista"

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Já que há dias nacionais e mundiais de tudo e mais alguma coisa, não deixo passar em claro aquele que deveria ser denominado como Dia Nacional da Demagogia. Por cá, demagogia há todos os dias, mas alcança níveis avassaladores no dia do mês em que o Primeiro-Sinistro vai à Assembleia da República.

O actual, Fócrates (com ele, a vida é uma soda) é um dos maiores mestres da retórica (arte de falar bem sem nada dizer). Aliás, ele vai para além dos mestres da retórica. Fala bem, dizendo muito, mas justificando as medidas que toma com argumentos que significam o contrário, embora manipulando-os de forma a deixarem a sensação que, apesar de dizerem o contrário, significam exactamente aquilo que ele quer que constitua a justificação das suas medidas. Confusos? Também eu! Não domino a arte da retórica, mas depois de ter visto durante três horas seguidas a transmissão da sessão da Assembleia da República, é como se tivesse tirado um curso superior de Retórica. Aquilo não são ministros e deputados, são sofistas!

Sócrates disse ontem: “A idade da reforma não vai aumentar”. Depois da explicação dada, quem percebe minimamente a língua portuguesa concluiu que a idade da reforma ia aumentar. Sócrates tinha uma tese que explicou através da antítese. Isto é, explicou, preto no branco, que apesar do preto ser preto e do branco ser branco, o preto é, na verdade, branco e o branco tanto pode ser preto como branco e às vezes de outra cor. Dedicou-se a várias outras imbecilidades retóricas, correspondendo as justificações de todas elas à teoria do preto que é branco e do branco que pode não ser preto.

Uma das coisas que se percebeu bem foi que o Primeiro-Sinistro acha que à subida da esperança média de vida tem que corresponder uma subida da idade da reforma. Mas, REPITO, ele disse que “A idade da reforma não vai aumentar”!!! Há uma coisa que eu sei: ou aumenta ou não aumenta (aliás, sei, como toda a gente, que aumenta). Agora este “sim mas não, não mas sim e nomeadamente o problema tem a ver com a subida da descida e a nossa opinião é de que a curva do gráfico sobe numa perspectiva descendente” já não é simples retórica demagógica. É conversa de espertalhão armado em atrasado mental para os atrasados mentais armados em espertalhões que o elegem.

Quanto à demagogia… Bem, demagogia é, por exemplo, isto: o governo anunciou há algum tempo, com pompa e circunstância que, para contribuir para a contenção da despesa pública, os deputados iam deixar de viajar nos aviões em 1ª classe. Soube-se ontem que, afinal, continuam a viajar em 1ª classe mas, graças a um acordo com a TAP, a preços de classe turística. Isto ajuda na mesma a reduzir as despesas em viagens, mas o governo aproveitou para "mostrar" ao povinho que os políticos também andam a fazer os seus sacrifícios. Mais uma vez, prevaleceu a mentira.

Para concluir, refiro as duas pérolas da tarde na Assembleia. A primeira, ainda na sequência das viagens, e mais uma vez tentando justificar o injustificável, é do Primeiro-Sinistro. Meteu uma vez mais os pés pelas mãos, balbuciando qualquer coisa sobre voos intercontinentais, pois só esses tinham três classes: “1ª classe, classe executiva e a outra” (sic). Gostava de ter estado nas galerias da Assembleia para gritar: “A outra chama-se classe turística, que é a única em que viajei até hoje e por isso sei o seu nome”. A outra pérola surgiu da bancada cor-de-laranja, pela boca do seu líder, Marques Mendes, que recentemente ajudou a eleger o inventor da Teoria do Oásis: “O Primeiro-Ministro diz que tudo melhorou, quando na verdade tudo piorou. Só lhe falta dizer que isto é um oásis” (sic outra vez).

Eu gostava era de ser sueco de origem portuguesa e comprar um bilhete de avião para o Canadá.

3 Response to A retórica demagógica do "artista"

Anónimo
28 abril, 2006 22:07

Aí a tua costela laranja.

Anónimo
01 maio, 2006 11:26

O gajo aprendeu com o Diogo...

Anónimo
02 maio, 2006 01:20

parabens pelo artigo.